À oitava foi de vez. À procura de recuperar o comando da classificação da Liga Portuguesa e de deixar o rival FC Porto a oito pontos, o Benfica de Jorge Jesus saiu vergado da visita ao Bessa, onde perdeu, esta segunda-feira, frente ao Boavista, por 3-0.
BENFICA CAI COM ESTRONDO NO BESSA NA PRIMEIRA VITÓRIA DO BOAVISTA
O maior elogio que se pode fazer à equipa de Seabra e crítica à “Águia” de JJ é que o resultado não é mentiroso e espelha na perfeição aquilo que se passou em campo.
À partida para o jogo que colocou um ponto final na jornada 6 da Liga NOS, o Boavista procurava a primeira vitória na era Seabra (inicialmente marcada por um investimento forte, para o que havia sido feito nos últimos anos, num claro sentido de colocar a equipa na luta pela Europa) e o Benfica tentava somar três pontos que lhe permitissem recuperar a liderança perdida na véspera para o Sporting e deixar o FC Porto a oito pontos (depois da derrota em Paços de Ferreira).
Com um Boavista a apostar num inédito sistema de 5x4x1 e o Benfica numa versão próxima da que será a “máxima força” (com Pizzi à direita do meio-campo e Gabriel e Taarabt no miolo), cedo a equipa axadrezada conseguiu manietar o primeiro momento de construção dos encarnados.
Com grande dificuldade em chegar ao último terço – imagine-se para criar oportunidades –, o Benfica via um golo ser-lhe anulado por fora-de-jogo de Darwin Núñez, aos 11 minutos, no primeiro rasgo de criatividade entre linhas.
Apenas sete minutos mais tarde, o Boavista ganhava uma grande penalidade, pela mão do jovem prodígio Angel Gomes, a aproveitar uma falta infantil de Everton dentro da grande área, antes de ser ele próprio a converter o castigo máximo.
Até ao intervalo, sinal mais por parte da equipa de Vasco Seabra, que viu Leo Jardim ter de intervir em apenas uma ocasião para evitar o golo encarnado, após cabeceamento de Jan Vertonghen.
Quem voltaria a festejar, ainda antes do intervalo, seria o Boavista, após bom trabalho de Alberth Elis (reforço hondurenho contratado ao Houston Dynamo, da MLS), a aproveitar a passividade da linha defensiva encarnada, aos 38 minutos.
Para a segunda parte, mini-revolução por parte de Jorge Jesus, que fez entrar Haris Seferovic, Julian Weigl e Rafa Silva para os lugares de Everton (completamente apagado no ataque e responsável pelo “penalty” do Boavista), Gabriel (uma sucessão de passes falhados que deixaram a equipa em aflição) e Pizzi (muito ausente do jogo nos vários momentos do mesmo).
Durante toda a segunda parte, o Benfica só durante cerca de 15 minutos conseguiu acercar-se com mais duração do último terço, sem capacidade para desequilibrar apropriadamente uma equipa do Boavista bem montada, organizada e com uma capacidade de resposta muito positiva após cinco jogos consecutivos sem vencer.
Num momento que, no Benfica, o risco era já total à procura do 2-1, foi o Boavista a sentenciar a partida e a chegar a impensáveis (mas só antes do jogo…) 3-0, com o defesa Hamache a finalizar, perante uma linha defensiva autenticamente a dormir, boa iniciativa individual de Paulinho sobre a direita.
INVESTIMENTO AVULTADO EM CHEQUE NO PÓS-ELEIÇÕES
A primeira derrota no campeonato – a segunda na temporada, após o PAOK – chegou poucos dias após o ato eleitoral que renovou a presidência de Luís Filipe Vieira por mais quatro anos.
No defeso, o início de 2020/21 – que se seguiu a uma das piores épocas de que há memória na Luz na última década – ficou irremediavelmente marcado por um investimento a rondar os 100 milhões de euros no reforço do plantel e, antes, pelo regresso de Jorge Jesus e uma equipa técnica pela qual o Benfica terá desembolsado mais de 20 milhões para os dois anos de contrato celebrados com o ex-treinador do Flamengo.
Com a aposta histórica feita na tesouraria e nos gabinetes do Seixal, a pressão em campo sobre o trabalho de Jesus neste regresso a uma casa onde já foi feliz seria sempre enorme e o reflexo disso poderá começar a fazer-se sentir a breve trecho.
Até à data, apenas Darwin Núñez e Luca Waldschmidt já deram provas inequívocas do seu valor. Everton ‘Cebolinha’ tem estado a anos-luz do que mostrou no Grêmio e na Seleção Brasileira nestes primeiros meses da sua aventura europeia e até Nicolas Otamendi e Jan Vertonghen correm ainda à procura da melhor forma.
Após a lesão de André Almeida, Gilberto é o sexto “reforço” que entrou na equipa titular do Benfica e também o ex-Fluminense não tem conseguido justificar a aposta, até ao momento.
TESTE À CAPACIDADE DE RESPOSTA EM DUPLA JORNADA DE MUITO PERIGO
No pós-jogo, Jorge Jesus desvalorizou a goleada sofrida pela sua equipa e referiu até que “não interessa se perdes por um, dois ou três”.
A verdade é que, nas duas vezes em que o Benfica saiu atrás no marcador em 2020/21, perdeu: primeiro, a possibilidade de continuar a lutar por ir à Liga dos Campeões e, agora, a liderança da classificação da Liga, ocupada pelo Sporting.
Na próxima quinta-feira, as “águias” têm aquele que será, teoricamente, o teste mais complicado do ano até ao momento, com a receção ao Rangers, na 3.ª jornada da Liga Europa.
No domingo, antes de nova paragem para a terceira “data FIFA” da época, o adversário é o Braga de Carlos Carvalhal, que conseguiu reduzir para três os pontos de distância que o separam do Benfica.
Na Betano, o Benfica é favorito para ambos os jogos (1.85 contra o Rangers, 1.61 frente ao Braga), mas existe a curiosidade de perceber como a equipa de Jorge Jesus reagirá ao duro murro no estômago que sofreu no Estádio do Bessa.